O SOM DAS ÁGUAS LENTAS
Os galegos nas letras portuguesas
Por XOSÉ LOIS GARCÍA
A índa quentiño do prelo, acaba de chegarme: Os galegos nas letras portuguesas, un libro coordinado polo xornalista, Manuel Rodrigues Vaz e publicado por Pangeia Editores. Unha edición que galegos e portugueses notabamos a faltar.Non é un traballo fácil a busca que logra os seus fins. Por iso que este tipo de libros teñen o seu risco cando se dan prioridades indebidas. Mais no esencial é un libro necesario e puntual, feito á medida dun home que entende Portugal e Galiza, desde unha visión contextualizada no que se ten configurado desde Portugal cara a Galiza e viceversa.O Vaz é un xornalista que se ten destacado en varias parcelas da información, desde a Angola preindependencia ao Portugal postsalazarista. Combinou varias facetas como informador de noticias e como crítico de arte e, sempre, puntual nos aconteceres cotiáns.O tema dos galegos en Portugal foi para o Vaz un simulacro tentador que sempre o tivo presente fronte ás laceracións vidas daqueles escritores burgueses da Lisboa cosmopolita e culta que ollaban os galegos dunha maneira grotesca e pouco cimentada na realidade dun país colonizado.
Isto é o que recolle Rodrigues Vaz, dunha maneita puntual e precisa, dado que o texto é transcrito. Aí está o elemental da cuestión, dado que non merece interpretar a intención, senón mesmo o que se di.
Coido que o Vaz escolleu os textos menos airados e violentos contra os galegos. Notamos a faltar certos textos de escarnio contra a presenza galega en Lisboa, ditos por grandes cultistas da literatura portuguesa. Sempre desde Lisboa, desde onde peor se entendeu os fillos da Galiza que souberon, dignamente, abrir canales en Portugal.Manuel Rodrigues Vaz viaxa pola Galiza non para facer turismo senón para amala. E isto enténdese dun beirão de Moimenta da Beira, terra de Aquilino Ribeiro, de Luís Veiga Leitão e doutros grandes escritores desta Terra do Demo -como eles denominan. Unha terra esgrevia, mesmo onde acaban Trás-os-Montes e as Beiras comezan. Unha terra moi precisa con moitos acentos físicos e ancestrais da Galiza.Isto para o Vaz, que vive en Lisboa, a Galiza non a ve cos ollos da indiferenza. Por iso postulou un libro lineal, sen atrancos nin confusións; un libro de permanente utilidade que quen o lea non vai ficar frustrado. Todas esas opinións de persoas do pasado e da actualidade pode que nos emancipen nunha certeza, que galegos e portugueses aínda estamos collidos polo mesmo cordón umbilical, que a patria común aínda non nos desligou. E isto recóllese, tamén, no sentir de certos escritores que transgrediron aquela maldade tan cínica como perversa que utilizaron algúns mecenas que sempre tentaron separarnos a portugueses e galegos.
Neste libro hai textos para conmemorar dado que moitos autores non confunden os galegos cos "espanhois", como é moi habitual en certos persoeiros que invocan a soidade deprimente, fronte a unha política de expansión castelá, sempre mal comprendida e usada con belixerancia polo centralismo dos catolicísimos Isabel e Fernando de Castela.
Este libro fusiona unha serie de opinións contextualizadas en varias temporalidades cuxo espazo procura reencontrarse desde o lado portugués en moi diversos horizontes. Fomentar irmandade e conducir esas ideas que se manifestan neste libro sempre será un acto nobre que posibilite aceptarnos tal como somos e alén das discordias que os tempos frustrantes impuxeron desavenencias.
Este libro, alén do coordinador, Rodrigues Vaz, conta co contributo artístico de Helena Justino, protagonista das esmeradas ilustracións que definen as variadas instancias e oficios dos galegos en Lisboa. Esta é unha Edição Comemorativa do I Centenário da Xuventude de Galicia e que contou co apoio da Xunta de Galicia.
In “Galicia.Hoxe”, 09.12.08
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Os Galegos nas Letras Portuguesas
NOTA PRÉVIA
Ao livro
Os Galegos nas Letras Portuguesas
Coordenação de Rodrigues Vaz
Pangeia Editora, 2008
Na península que habitamos, na Europa, mesmo no mundo inteiro, nada nos é mais próximo do que a Galiza, nada deveria ser-nos, também, mais caro. Temos ali uma irmã de cultura, no idioma, no modo de ser. Por ali se prolongam tranquilamente as nossas paisagens. Foi dali que, num dia longínquo, nascemos como país, depois de séculos em que o nosso Norte era somente o Sul da Galiza.
Fernando Venâncio
Semanário Expresso. 1 de Dezembro de 2007
Não podemos estar mais de acordo com a afirmação da citação em epígrafe, retirada de um artigo que aquele professor universitário publicou no referido semanário português, sob o título Mana Galiza.
Efectivamente, malgrado várias tentativas de divisão e, nalguns sectores, o aparecimento de algumas pedras-no-sapato da reconhecida irmandade que ainda se nota entre portugueses e galegos, a verdade é que o tempo actual é de união e tudo será pouco para fomentar o seu reforço nos próximos anos.
Porque, como aliás o professor Fernando Venâncio realça justamente, «Um crescente conhecimento do passado e do presente galegos virá minar-nos algumas certezas. Virá confrontar o nosso secular autocomprazimento com interrogações inesperadas, talvez incómodas. Alguns exemplos triviais. Proclamamos, com íntimo alvoroço, que, sem os portugueses, o Mundo teria ficado de três maravilhas: a da saudade, a do infinito pessoal e a das cantigas de amigo. Em doridos fados, em engenhosos ensaios, miramos e remiramos essas dádivas dos deuses. É um espectáculo deprimente. Porque tudo isso, e bastante mais, trouxemo-lo do fornecido celeiro de origem, onde já se tinha inventado a saudade (a palavra e a coisa), onde já o infinito pessoal se fizera corrente (e, à cautela, se assegurara o futuro do conjuntivo) e onde se começava a internacionalizar a cantiga de amigo, o género mais “in” de toda a largura norte da Península.»
Povo generoso, conhecido pela sua honestidade e probidade, pelo que era-lhe pedido frequentemente servir de intermediário de recados de amor, que veio a Lisboa para governar a sua vida, passando tão discretamente quanto possível, o galego foi presença marcante nos últimos séculos em toda a capital portuguesa, adoptando primeiro as mais variadas profissões que exigiam esforços, nomeadamente aguadeiros, estivadores, mariolas, carregadores e amoladores, não esquecendo os boleeiros e os pitrolinos, e depois os empregados de mesa e, por último, proprietários de tascas e restaurantes e negociantes imobiliários.
Quer às esquinas da Rua Augusta, à espera de clientes, quer no largo que hoje se chama do Chiado mas que no século XVII era conhecido como Ilha dos Galegos, por estes ali se concentrarem amiúde, os galegos eram tão notórios que todos os viajantes da época os referem, normalmente no aspecto positivo, como, por exemplo, a princesa Ratazzi, no conhecido livro “A Formosa Lusitânia”, que Camilo Castelo Branco traduziu, define-os assim: «Os melhores criados, mais trabalhadores, honestos, briosos e fiéis são galegos, assim como os carregadores, aguadeiros e a maior parte dos padeiros de Lisboa. Se a gente precisa de um portador fiel, chama um galego. (…)»
Na verdade, se bem que a emigração se dá agora em sentido contrário, sobretudo do norte de Portugal para a Galiza, a presença dos descendentes de imigrantes galegos continua a ser notória em Lisboa, especialmente na restauração e no negócio de imóveis. E também no plano intelectual, a contribuição galega é igualmente notória, desde o escritor Alfredo Guisado, um dos luminares do grupo Orfeu, que quando vereador da Câmara de Lisboa, conseguiu fazer aprovar a construção do Crematório do Cemitério do Alto de S. João, contra a vontade da Igreja Católica, a Fernando Assis Pacheco, escritor de reconhecido valor, desde o grande escritor José Rodrigues Miguéis ao professor Juvenal Esteves, desde a escritora e poeta Matilde Rosa Araújo ao grande pintor Dominguez Alvarez, entre muitíssimos outros.
Porque os tempos são outros e outras as condições, já não vamos ouvir mais o célebre pregão “Aú”, que dava tipicismo e cor à Lisboa do antigamente, mas, curiosamente, voltámos desde há dois anos a ouvir o toque típico e o pregão “Amolar tesouras e navalhas e compor guarda-chuvas”, por sinal por beirões dos quatro costados que ainda conseguiram as típicas tarasanas – roda dos sete ofícios – que foram desencantar algures a um velho amolador do Sobroso, nas cercanias de Mondariz.
Como é geralmente conhecido, os galegos são os responsáveis pela implantação, em Lisboa, de vários manjares que ainda hoje são presença na maior parte das ementas alfacinhas.
A saber, a meia-desfeita, nome que vem de ser uma dose para duas pessoas, pois antes tudo era partilhado para ficar mais barato; a mão-de-vaca, que, tal como a meia desfeita, era para utilizar o grão-de-bico, aliás o grabanzo galego ou o ervanço beirão; as iscas, que os galegos começaram a servir com “elas”, batatas fritas às rodelas; o caldo verde, aliás com couve-galega; o bitoque, que tomou o nome de um galego atarracado que o começou a servir; além do prego, assim denominado por ser feito com as pontas da carne, e do caldo de camarão e da fava-rica.
Não esquecer também o seu papel na higiene da capital portuguesa, que sem eles seria, evidentemente, mais suja e mais insalubre, porque a sua presença foi fundamental para a distribuição de água e para o primeiro serviço de bombeiros, de capital importância numa época em que havia muitos incêndios, especialmente durante o Verão. Além da importante função de transportar os doentes para os hospitais e levar os mortos para os cemitérios, a construção do Aqueduto das Águas Livres, no tempo do Marquês de Pombal, teve também a imprescindível colaboração dos galegos, assim como a reconstrução da cidade de Lisboa após o terramoto de 1755 e os trabalhos do convento de Mafra, não esquecendo que eles foram os pioneiros da Companhia das Águas, pois não devemos esquecer que no séc. XVIII, estavam nesse serviço nada menos do que 3000 galegos, que se forneciam em 29 chafarizes.
Ligada aos galegos em Lisboa está desde há muito tempo a capela de Santo Amaro, no Alto de Santo Amaro, que é conhecida como a capela dos Galegos, por estes venerarem este patrono dos membros superiores e inferiores, afinal a sua ferramenta essencial para o trabalho.
Por tudo isto, é inegável que a solidariedade luso-galega tem de ser encarada como a coisa mais justa e natural do mundo, pois que de povos irmãos se trata, sendo as diferenças também sintomas de união. O que nos leva a concordar completamente com Fernando Venâncio, quando ele conclui: «Parece (..) proveitoso deixar descansar a História e seus sobressaltos, ou lembrá-la só para entender melhor aonde chegámos hoje. Um bom começo seria proibir lirismos do tipo «a separação que nunca devia ter-se dado», «unir o que a História dividiu», «reconstruir a Galécia». Tudo lastro, tudo tralha. Baste-nos saber que, se de algum povo somos manos, é desse. Demasiado parecido connosco, ele canta melancólico, chamando-se a si mesmo «uma folha no vento/ alento e desalento», como no soberbo número “O Meu País”, do grupo Luar na Lubre, com a voz da portuguesa Sara Vidal. Ou já bem diferente, seguro, inventivo, achamo-lo ao estirador ou frente ao ecrã, criando uma banda desenhada e uma animação digital que dão cartas a nível peninsular e europeu. É assim que muitos galegos preferem olhar o seu país, como um projecto de futuro, numa periferia que já não é condenação mas oportunidade.»
Por em tal acreditarmos é que correspondemos ao convite do conhecido empresário hoteleiro Manolo Carrera para organizar esta compilação, como forma de assinalar os 100 anos da Xuventude de Galicia, convite que foi reforçado e acarinhado pela actual Direcção.
Foi uma tarefa fácil, porque eu próprio, devido às minhas anuais deambulações pela Galiza e pelas minhas relações com homens de letras galegos, já tinha começado a organizar a minha bibliografia sobre a Galiza e tinha mesmo pensado que um dia iria organizar um livro que mostrasse como os galegos têm sido vistos nas letras portuguesas.
Foi portanto juntar o útil ao agradável.
É evidente que esta não é uma compilação exaustiva da presença dos galegos nas letras portuguesas. É a minha compilação. Subjectiva, portanto. Refiro-me a letras e não a literatura, porque esse era também o meu objectivo: pescar referências aos galegos, mesmo nos sites e até em publicações pouco conhecidas, e incluí alguns textos de qualidade realmente muito discutível, mas cujo amor que deixavam transparecer em relação à Galiza e aos galegos me levou decididamente a transgredir na qualidade.
A fundação da Xuventude de Galícia foi uma aventura que vale a pena continuar. No seu primeiro centenário de vida, esta também é uma forma de a enriquecer, justificar a sua existência e ajudar a projectar o seu futuro assim como os dos galegos que têm Portugal também como a sua segunda pátria.
Resta anunciar que a este volume mais dois se lhe seguirão: A Galiza nas Letras Portuguesas e Dicionário dos Galegos em Portugal.
Rodrigues Vaz
Ao livro
Os Galegos nas Letras Portuguesas
Coordenação de Rodrigues Vaz
Pangeia Editora, 2008
Na península que habitamos, na Europa, mesmo no mundo inteiro, nada nos é mais próximo do que a Galiza, nada deveria ser-nos, também, mais caro. Temos ali uma irmã de cultura, no idioma, no modo de ser. Por ali se prolongam tranquilamente as nossas paisagens. Foi dali que, num dia longínquo, nascemos como país, depois de séculos em que o nosso Norte era somente o Sul da Galiza.
Fernando Venâncio
Semanário Expresso. 1 de Dezembro de 2007
Não podemos estar mais de acordo com a afirmação da citação em epígrafe, retirada de um artigo que aquele professor universitário publicou no referido semanário português, sob o título Mana Galiza.
Efectivamente, malgrado várias tentativas de divisão e, nalguns sectores, o aparecimento de algumas pedras-no-sapato da reconhecida irmandade que ainda se nota entre portugueses e galegos, a verdade é que o tempo actual é de união e tudo será pouco para fomentar o seu reforço nos próximos anos.
Porque, como aliás o professor Fernando Venâncio realça justamente, «Um crescente conhecimento do passado e do presente galegos virá minar-nos algumas certezas. Virá confrontar o nosso secular autocomprazimento com interrogações inesperadas, talvez incómodas. Alguns exemplos triviais. Proclamamos, com íntimo alvoroço, que, sem os portugueses, o Mundo teria ficado de três maravilhas: a da saudade, a do infinito pessoal e a das cantigas de amigo. Em doridos fados, em engenhosos ensaios, miramos e remiramos essas dádivas dos deuses. É um espectáculo deprimente. Porque tudo isso, e bastante mais, trouxemo-lo do fornecido celeiro de origem, onde já se tinha inventado a saudade (a palavra e a coisa), onde já o infinito pessoal se fizera corrente (e, à cautela, se assegurara o futuro do conjuntivo) e onde se começava a internacionalizar a cantiga de amigo, o género mais “in” de toda a largura norte da Península.»
Povo generoso, conhecido pela sua honestidade e probidade, pelo que era-lhe pedido frequentemente servir de intermediário de recados de amor, que veio a Lisboa para governar a sua vida, passando tão discretamente quanto possível, o galego foi presença marcante nos últimos séculos em toda a capital portuguesa, adoptando primeiro as mais variadas profissões que exigiam esforços, nomeadamente aguadeiros, estivadores, mariolas, carregadores e amoladores, não esquecendo os boleeiros e os pitrolinos, e depois os empregados de mesa e, por último, proprietários de tascas e restaurantes e negociantes imobiliários.
Quer às esquinas da Rua Augusta, à espera de clientes, quer no largo que hoje se chama do Chiado mas que no século XVII era conhecido como Ilha dos Galegos, por estes ali se concentrarem amiúde, os galegos eram tão notórios que todos os viajantes da época os referem, normalmente no aspecto positivo, como, por exemplo, a princesa Ratazzi, no conhecido livro “A Formosa Lusitânia”, que Camilo Castelo Branco traduziu, define-os assim: «Os melhores criados, mais trabalhadores, honestos, briosos e fiéis são galegos, assim como os carregadores, aguadeiros e a maior parte dos padeiros de Lisboa. Se a gente precisa de um portador fiel, chama um galego. (…)»
Na verdade, se bem que a emigração se dá agora em sentido contrário, sobretudo do norte de Portugal para a Galiza, a presença dos descendentes de imigrantes galegos continua a ser notória em Lisboa, especialmente na restauração e no negócio de imóveis. E também no plano intelectual, a contribuição galega é igualmente notória, desde o escritor Alfredo Guisado, um dos luminares do grupo Orfeu, que quando vereador da Câmara de Lisboa, conseguiu fazer aprovar a construção do Crematório do Cemitério do Alto de S. João, contra a vontade da Igreja Católica, a Fernando Assis Pacheco, escritor de reconhecido valor, desde o grande escritor José Rodrigues Miguéis ao professor Juvenal Esteves, desde a escritora e poeta Matilde Rosa Araújo ao grande pintor Dominguez Alvarez, entre muitíssimos outros.
Porque os tempos são outros e outras as condições, já não vamos ouvir mais o célebre pregão “Aú”, que dava tipicismo e cor à Lisboa do antigamente, mas, curiosamente, voltámos desde há dois anos a ouvir o toque típico e o pregão “Amolar tesouras e navalhas e compor guarda-chuvas”, por sinal por beirões dos quatro costados que ainda conseguiram as típicas tarasanas – roda dos sete ofícios – que foram desencantar algures a um velho amolador do Sobroso, nas cercanias de Mondariz.
Como é geralmente conhecido, os galegos são os responsáveis pela implantação, em Lisboa, de vários manjares que ainda hoje são presença na maior parte das ementas alfacinhas.
A saber, a meia-desfeita, nome que vem de ser uma dose para duas pessoas, pois antes tudo era partilhado para ficar mais barato; a mão-de-vaca, que, tal como a meia desfeita, era para utilizar o grão-de-bico, aliás o grabanzo galego ou o ervanço beirão; as iscas, que os galegos começaram a servir com “elas”, batatas fritas às rodelas; o caldo verde, aliás com couve-galega; o bitoque, que tomou o nome de um galego atarracado que o começou a servir; além do prego, assim denominado por ser feito com as pontas da carne, e do caldo de camarão e da fava-rica.
Não esquecer também o seu papel na higiene da capital portuguesa, que sem eles seria, evidentemente, mais suja e mais insalubre, porque a sua presença foi fundamental para a distribuição de água e para o primeiro serviço de bombeiros, de capital importância numa época em que havia muitos incêndios, especialmente durante o Verão. Além da importante função de transportar os doentes para os hospitais e levar os mortos para os cemitérios, a construção do Aqueduto das Águas Livres, no tempo do Marquês de Pombal, teve também a imprescindível colaboração dos galegos, assim como a reconstrução da cidade de Lisboa após o terramoto de 1755 e os trabalhos do convento de Mafra, não esquecendo que eles foram os pioneiros da Companhia das Águas, pois não devemos esquecer que no séc. XVIII, estavam nesse serviço nada menos do que 3000 galegos, que se forneciam em 29 chafarizes.
Ligada aos galegos em Lisboa está desde há muito tempo a capela de Santo Amaro, no Alto de Santo Amaro, que é conhecida como a capela dos Galegos, por estes venerarem este patrono dos membros superiores e inferiores, afinal a sua ferramenta essencial para o trabalho.
Por tudo isto, é inegável que a solidariedade luso-galega tem de ser encarada como a coisa mais justa e natural do mundo, pois que de povos irmãos se trata, sendo as diferenças também sintomas de união. O que nos leva a concordar completamente com Fernando Venâncio, quando ele conclui: «Parece (..) proveitoso deixar descansar a História e seus sobressaltos, ou lembrá-la só para entender melhor aonde chegámos hoje. Um bom começo seria proibir lirismos do tipo «a separação que nunca devia ter-se dado», «unir o que a História dividiu», «reconstruir a Galécia». Tudo lastro, tudo tralha. Baste-nos saber que, se de algum povo somos manos, é desse. Demasiado parecido connosco, ele canta melancólico, chamando-se a si mesmo «uma folha no vento/ alento e desalento», como no soberbo número “O Meu País”, do grupo Luar na Lubre, com a voz da portuguesa Sara Vidal. Ou já bem diferente, seguro, inventivo, achamo-lo ao estirador ou frente ao ecrã, criando uma banda desenhada e uma animação digital que dão cartas a nível peninsular e europeu. É assim que muitos galegos preferem olhar o seu país, como um projecto de futuro, numa periferia que já não é condenação mas oportunidade.»
Por em tal acreditarmos é que correspondemos ao convite do conhecido empresário hoteleiro Manolo Carrera para organizar esta compilação, como forma de assinalar os 100 anos da Xuventude de Galicia, convite que foi reforçado e acarinhado pela actual Direcção.
Foi uma tarefa fácil, porque eu próprio, devido às minhas anuais deambulações pela Galiza e pelas minhas relações com homens de letras galegos, já tinha começado a organizar a minha bibliografia sobre a Galiza e tinha mesmo pensado que um dia iria organizar um livro que mostrasse como os galegos têm sido vistos nas letras portuguesas.
Foi portanto juntar o útil ao agradável.
É evidente que esta não é uma compilação exaustiva da presença dos galegos nas letras portuguesas. É a minha compilação. Subjectiva, portanto. Refiro-me a letras e não a literatura, porque esse era também o meu objectivo: pescar referências aos galegos, mesmo nos sites e até em publicações pouco conhecidas, e incluí alguns textos de qualidade realmente muito discutível, mas cujo amor que deixavam transparecer em relação à Galiza e aos galegos me levou decididamente a transgredir na qualidade.
A fundação da Xuventude de Galícia foi uma aventura que vale a pena continuar. No seu primeiro centenário de vida, esta também é uma forma de a enriquecer, justificar a sua existência e ajudar a projectar o seu futuro assim como os dos galegos que têm Portugal também como a sua segunda pátria.
Resta anunciar que a este volume mais dois se lhe seguirão: A Galiza nas Letras Portuguesas e Dicionário dos Galegos em Portugal.
Rodrigues Vaz
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
À maneira de Prefácio
a propósito do livro
"A Siamesa - I. A Aparição"
de Kate Hama
Primordialmente, ficção-científica é uma forma de ficção desenvolvida no século XIX que lida principalmente com o impacto da ciência, tanto verdadeira como imaginada, sobre a sociedade ou os indivíduos. Mas o termo é mais usado, de forma mais geral, para definir qualquer fantasia literária que inclua o factor ciência como componente essencial.
Partindo deste conceito, este livro de Kate Hama, KH, pode ser considerado uma obra de ficção-científica e muito mais o parecerá, à primeira vista, porque de vários modos refere antecipações de várias máquinas e mecanismos futuros assim como de diversos modos de conhecimento que muito possivelmente o Homem há-de dominar um dia.
Nesta medida, A Siamesa é, portanto, uma novela exemplar de ficção-científica, porque se baseia na ciência de forma plausível, sendo a riqueza de detalhes um dos seus pontos fortes, incluindo ainda previsões sobre sociedades futuras na Terra assim como análises das consequências das viagens interestelares e explorações imaginativas de outras formas de vida inteligente e das suas sociedades noutros mundos.
Mas A Siamesa não é apenas uma novela de ficção-científica. O seu autor, que soube imaginar uma personagem tão complexa como a Siamesa, rodeando-a de personagens que encaixam como um mecanismo de relógio suíço numa trama cujo mistério vai aumentando à medida do seu desenrolar, construiu, perseverante e firmemente, um libelo que nos recorda com minúcia o drama da existência humana nas suas limitações e condicionalismos.
Primeira incursão nas letras do autor, portanto sem a experiência nem o calo e, logicamente, sem atingir a qualidade literária dos seus antecessores na ficção-científica angolana, género literário em que podemos considerar algumas obras de Henrique Abranches e Artur Pepetela, esta obra de KH é, por outro lado, pioneira pela intenção e pela unidade dramática que a enforma.
Aparentemente, e segundo o autor declara amiúde, a mensagem principal a extrair da obra é que o crime não compensa e que a justiça não se deve nunca fazer pelas próprias mãos. Uma leitura mais atenta levar-nos-á, no entanto, a muitas outras conclusões, nomeadamente à condenação dos totalitarismos – de todos os totalitarismos, venham de onde vierem - assim como à fatuidade e inutilidade de todos os excessos.
Uma análise semiológica da linguagem que Kate Hama utiliza leva-nos a descobrir muitas outras coisas variadas e interessantes.
Antes de mais, há que registar uma grande capacidade de adaptação, aliás inata nos que podemos chamar de verdadeiros mwangolés. Apenas com seis anos de vivência de Luanda, KH aparece com uma linguagem que, sem descurar os termos e modismos do seu Huambo natal, especialmente os do seu Bailundo, incorpora os termos mais correntes do alfacinha de Luanda, no seu pior … e melhor, parecendo às vezes até que nunca foi outra coisa do que um autêntico calu.
Verdadeiro criador de neologismos, como se fosse um notável mestre da Língua Portuguesa, KH reinventa-a de vários modos, razão por que a revisão optou por eliminar as inúmeras aspas que deveriam aparecer ao longo do texto, dando igual tratamento à integração de estrangeirismos, nomeadamente de origem britânica, que de tão incorporados que começam a estar na linguagem corrente não são assinalados como estranhos ao texto. Mas onde mais se nota isto mesmo é especialmente nos termos de origem castrense, o que não admira, dada a sua origem profissional assim como as relações que por esse motivo teve durante o seu percurso militar.
Registe-se ainda como características principais da sua escrita, a forma singularmente arrevesada como utiliza o seu grande poder de efabulação, através do uso da negativa como forma de realçar os acontecimentos e as qualidades dos agentes assim como o esforço acentuado involuntariamente que o leva a mostrar os seus conhecimentos culturais, que vai distribuindo pelo texto em doses tão sábias como equilibradas.
Rodrigues Vaz
a propósito do livro
"A Siamesa - I. A Aparição"
de Kate Hama
Primordialmente, ficção-científica é uma forma de ficção desenvolvida no século XIX que lida principalmente com o impacto da ciência, tanto verdadeira como imaginada, sobre a sociedade ou os indivíduos. Mas o termo é mais usado, de forma mais geral, para definir qualquer fantasia literária que inclua o factor ciência como componente essencial.
Partindo deste conceito, este livro de Kate Hama, KH, pode ser considerado uma obra de ficção-científica e muito mais o parecerá, à primeira vista, porque de vários modos refere antecipações de várias máquinas e mecanismos futuros assim como de diversos modos de conhecimento que muito possivelmente o Homem há-de dominar um dia.
Nesta medida, A Siamesa é, portanto, uma novela exemplar de ficção-científica, porque se baseia na ciência de forma plausível, sendo a riqueza de detalhes um dos seus pontos fortes, incluindo ainda previsões sobre sociedades futuras na Terra assim como análises das consequências das viagens interestelares e explorações imaginativas de outras formas de vida inteligente e das suas sociedades noutros mundos.
Mas A Siamesa não é apenas uma novela de ficção-científica. O seu autor, que soube imaginar uma personagem tão complexa como a Siamesa, rodeando-a de personagens que encaixam como um mecanismo de relógio suíço numa trama cujo mistério vai aumentando à medida do seu desenrolar, construiu, perseverante e firmemente, um libelo que nos recorda com minúcia o drama da existência humana nas suas limitações e condicionalismos.
Primeira incursão nas letras do autor, portanto sem a experiência nem o calo e, logicamente, sem atingir a qualidade literária dos seus antecessores na ficção-científica angolana, género literário em que podemos considerar algumas obras de Henrique Abranches e Artur Pepetela, esta obra de KH é, por outro lado, pioneira pela intenção e pela unidade dramática que a enforma.
Aparentemente, e segundo o autor declara amiúde, a mensagem principal a extrair da obra é que o crime não compensa e que a justiça não se deve nunca fazer pelas próprias mãos. Uma leitura mais atenta levar-nos-á, no entanto, a muitas outras conclusões, nomeadamente à condenação dos totalitarismos – de todos os totalitarismos, venham de onde vierem - assim como à fatuidade e inutilidade de todos os excessos.
Uma análise semiológica da linguagem que Kate Hama utiliza leva-nos a descobrir muitas outras coisas variadas e interessantes.
Antes de mais, há que registar uma grande capacidade de adaptação, aliás inata nos que podemos chamar de verdadeiros mwangolés. Apenas com seis anos de vivência de Luanda, KH aparece com uma linguagem que, sem descurar os termos e modismos do seu Huambo natal, especialmente os do seu Bailundo, incorpora os termos mais correntes do alfacinha de Luanda, no seu pior … e melhor, parecendo às vezes até que nunca foi outra coisa do que um autêntico calu.
Verdadeiro criador de neologismos, como se fosse um notável mestre da Língua Portuguesa, KH reinventa-a de vários modos, razão por que a revisão optou por eliminar as inúmeras aspas que deveriam aparecer ao longo do texto, dando igual tratamento à integração de estrangeirismos, nomeadamente de origem britânica, que de tão incorporados que começam a estar na linguagem corrente não são assinalados como estranhos ao texto. Mas onde mais se nota isto mesmo é especialmente nos termos de origem castrense, o que não admira, dada a sua origem profissional assim como as relações que por esse motivo teve durante o seu percurso militar.
Registe-se ainda como características principais da sua escrita, a forma singularmente arrevesada como utiliza o seu grande poder de efabulação, através do uso da negativa como forma de realçar os acontecimentos e as qualidades dos agentes assim como o esforço acentuado involuntariamente que o leva a mostrar os seus conhecimentos culturais, que vai distribuindo pelo texto em doses tão sábias como equilibradas.
Rodrigues Vaz
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Penteados femininos angolanos
A EPAR, Escola Profissional Almirante Reis, tem o enorme prazer de O/A convidar a assistir a um Evento que os professores e alunos estão a preparar, em especial para Si.
A 11 de Dezembro, a Exposição de
Penteados e Toucados Femininos Africanos,
da Pintora HELENA JUSTINO,
que se realizará na EPAR, Rua do Paraíso, 1, (à Feira da Ladra, e Hospital da Marinha), a partir das 10h30m e até às 17h40m, e que se realiza no âmbito do Curso de Educação e Formação de Adultos de Informação e Animação Turística.
Convite
A minha editora, Pangeia, convida para estarem presentes no próximo dia 12 de Dezembro, pelas 18.30, na Casa de Angola, Travessa da Fábrica das Sedas, 7, em Lisboa, na apresentação do livro "A Siamesa",
do escritor angolano Kate Hama.
Fará a apresentação o poeta angolano Zetho da Cunha Gonçalves.
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